Não posso esconder de vocês que Graciliano Ramos é meu romancista favorito entre os brasileiros, se não o for entre todos os demais também.
Independente disso, essa obra é monumental. O regionalismo de Graciliano nunca deixa de ser universal. Entramos nas personagens e nos identificamos com elas.
Paulo Honório é o narrador da história. São bernardo é uma fazenda na qual trabalhou e a conquistou e ela é o foco de sua evolução de um órfão desajustado a um proprietário da fazenda São Bernardo. Personagem forte e bruto, com inteligência e sagacidade compra e coloca para funcionar a fazenda abandonada pelo ex-dono.
Os motivos de narrar sua história são expostos, mas não claramente, como muita coisa no livro. Paulo Honório tenta repassar a história de sua vida, rever seus passos, mostrar como funcionava como dínamo, e que infelizmente, agora, estava emperrado. E o motivo desse emperrar? O suicídio de Madalena.
Seu jeito bruto faz a personagem não chamar de amor, talvez até por não entendê-lo, mas ao expor com sua linguagem, percebe-se que ele ama Madalena, sua esposa. Madalena é uma professora que aceita se casar com Paulo Honório e vive ativamente na fazenda, agindo em prol das famílias de São Bernardo. Ela é socialista, participa com artigos no jornal da cidade, e bem ligada as questões sociais e acontecimentos no Brasil. Infelizmente, seus ideais e comentários costumam causar desgosto no marido, e por isso mesmo não conversam mais e o depois de alguns anos de casamento, o ciúme surge e o relacionamento deles piora, incluindo conflitos físicos.
Madalena é apaixonante. Todos comentam dela e a amam. Sua postura é de alguém que gosta de participar da fazenda e da vida política do pais. Quer o bem estar da classe operária e é imensamente humanista. Sua preocupação com o outro é incrível, inclusive a cena mais trágica do livro mostra isso. Paulo Honório queria saber se ela era religiosa, pois facilitaria tudo. Só descobre isso no dia em que a encontra na igreja e ela sutilmente se despede dele, mostrando carinho e amor a sua pessoa. Depois o suicídio.
Isso abala o homem forte e controlador. Essa linda mulher loira e frágil não fora domada por ele. Isso o faz repensar. Mas repensar? Ele entendia o mundo da forma que viveu, como repensar? Repensar seria negar o mundo que viveu, que aprendeu a viver. Isso o trava, o desestimula. Ele continua a trabalhar na fazenda, mas não com o mesmo impeto, nem com o mesmo orgulho e motivação. É quase como por fazer o que sempre fez, por sair natural. Mas Madalena o mudou. Mudou o que ele não consegue nem entender, e por isso o ímpeto agora é de escrever. Escrever sua história para tentar entender...
A sinceridade de Paulo Honório e a rudeza natural de seu ser dão um efeito literário incrível no leitor. Conhecemos Paulo Honório, vivemos suas paixões e entendemos suas rudezas para vermos que mesmo o que são diferentes ainda assim são iguais, são humanos, são falhos e sofrem. Madalena e Paulo Honório são dois opostos que se juntaram para o fraco transformar o forte, por ser o fraco forte e o forte se quebrar. Madalena se suicida pois não suporta os mau tratos do marido, mas não sede seu ser as desumanidades e ao ciúme do marido. Paulo Honório não cede, só endurece mais, apesar de amar Madalena, e isso o faz repensar ao perdê-la. Sua quebra é de ímpeto.
Claro que tem muito mais para ser dito da obra. Ela é uma obra de arte brasileira, falando de nossa gente e de nossa realidade, mas que amplia ela para o mundo.
Mais uma vez, obra imperdível.
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